Você é Betty Frígida ou Roni Rústico?
Toda vez que ele assiste aquela cena do filme “Sem reservas” em que a Catherine Zeta Jones- que aliás é linda até de dolmã- sai da cozinha com um steak cru espetado na faca, vai até o salão, e crava na mesa do cliente metido a besta que já tinha mandado devolver o steak três vezes reclamando do ponto, ele se acha compreendido e representado.
O que ele faz é uma arte. Se dedica 24 horas do dia para entregar arte moderna e indiscutível!
Como alguém é capaz de questionar a perfeição dos seus pratos?
O ponto correto, o balancear dos sabores, a apresentação… tudo é calculado e aplicado à excelência.
Quem é um cara qualquer para escrever mal dele na internet?
Tudo bem, crítico taí pra isso, ainda mais com experiência de mais de duas décadas que tem. E a bem da verdade, o pessoal disse que ele não falou mal exatamente, só disse que esperava um pouco mais de alma a despeito do nível de qualidade da comida e a beleza do empratamento.
Bem, não interessa, quem é ele para falar um ai que seja do meu trabalho? Pensava ele.
Estava obstinado a confrontar o cara, independente dele ser editor chef do maior jornal da cidade, um dos maiores do Brasil.
Foi até o cara, num boteco daqueles em tradicionalmente os cozinheiros se encontram depois do serviço e que ele mesmo não ia muito por não se dar muito bem como a galera. “Não sei porque não gostam muito de mim…”
Olhou bem para o Cara, e sem olhar muito para os lados para perceber que ele estava com alguns amigos, falou na lata:
“Olha aqui, não sei porque não gosta de mim, não sei porque fala mal de mim, mas exijo que se retrate e volte para provar novamente minha comida. Não sou garoto, estou a muito tempo nessa jornada, passando por muitos países e estágios para ser desprestigiado assim…”
O crítico olhou para ele do alto de quem já havia tomado uns chopes e nada abalaria seu alto astral:
“Oi? Me desculpe, eu te conheço? Prazer, Crítico”. potencializando todo o sarcasmo que o suco de cevada lhe ajudava a ter.
Sem graça e quase convencido que não tinha sido uma boa idéia fazer aquilo, nosso Chef responde baixinho…
“Você sabe quem eu sou…”
“To brincando, eu sei quem você é. Só não sei quando foi que falei mal de você, ou da sua comida! Tem que relaxar um pouco…”
Constrangido, o Chef, sem saber bem o que fazer se sente acuado.
“Senta aí, vamos tomar um chope e você decide o que você é…” Sentando, o Chef pergunta;
“Como assim o que eu sou?”
“Você tem que decidir se você quer ser a Betty Frígida ou o Roni Rústico.”
“Hã?”
“Sim. Na atualidade na gastronomia, ou você é um tipo ou o outro. Olha bem, você conhece a música da Blitz?”
“Lógico.”
“Então, a Betty era frígida, não sentia prazer, e por isso tinha dificuldade de dar prazer.”
“O Roni Rústico, achava que era o “cara” e que ia resolver a Betty.”
O Chef não sabia se ficava atônito pelo rumo que a conversa tomava se achava um absurdo aquilo, ou se estava sendo trollado.
“Se você quer fazer tudo à perfeição, não se pode esquecer do cliente. Se você não sentir prazer em fazer a sua comida, por mais perfeito que ele seja ele não terá alma e não vai se conectar com o cara mais importante, o cliente, o “prazer””
“Agora se quiser ir na marra, e tentar na rusticidade resolver para o cliente, só no prazer, não vai rolar”
Então, aquilo de alguma forma fez um pouco de sentido. Estava “frígido”.
“Então, relaxa aí e ~pedindo um chope para o garçon~ e relaxa, que eu não sou o Roni e não vou te machucar, calma Betty, calma.”
E, sem saber bem aonde estava, nem qual era seu nome tomava seu chope...
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