crédito: caderno PME, Jornal Estado de São Paulo, jornalista Bárbara Stefanelli
Atenção:Os reacts são OPINIÕES pessoais do autor, sem qualquer compromisso questões empresariais, forma ou maneira da escrita e colocações sobre os personagens.
Na matéria do Estadão, a jornalista Bárbara Stefanelli, relata sobre uma queda de 41% nos faturamentos dos trucks em São Paulo, e ouve especialistas sobre as possíveis causas que levaram um mercado que tinha tudo para se consolidar, à um estado quase terminal.
Bem, a despeito dos dados levantados por Stefanelli, muito bem embasados por sinal, quem participou desse movimento entenderá a minha posição.
Tragédia anunciada.
O mercado paulista (isso mesmo, não só o paulistano), é o mais maduro do país. Quanto mais maduro, mais segmento o mercado se propõe a ser. Existem milhares de opções de alimentação fora do lar na cidade e na grande São Paulo, e ainda assim seria plenamente viável o desenvolvimento do mercado mais elaborado de comida de rua através dos trucks.
Por que então deu errado?
A apuração levanta hipóteses como falta de planejamento, pouco apoio governamental e ainda pouca habilidade dos entrantes do mercado em gestão, além, é claro, da crise.
Está corretíssimo. Entretanto em vários segmentos assistimos os sintomas acima.
Mas tenho convicção que, em suma, faltou um componente fundamental; o pressuposto da comida de rua, é oferecer comida de qualidade por preço baixo. O que sustentam e se notabilizam no mundo todo, são os que possuem componentes autorais em seus produtos ofertados, seja na forma, na maneira ou em técnicas.
E o que aconteceu no Brasil?
De início, essa filosofia se fez notar. Mas logo que o negócio caiu no gosto popular, fazendo o business subir meteoricamente, os olhos que se encheram de esperança foram justamente os de empreendedores que não eram do ramo, não tinham capital para uma franquia, e na, maioria das vezes, eles ou alguém que conheciam sabiam cozinhar muito bem ou fazer algo que na opinião pessoal deles, era muito bom.
Com isso, as filas de espera das empresas que vendiam e produziam trucks se encheram dessas pessoas, que ainda não tinham ideia do que faziam, nem do que vinha por aí.
Em lugares do Brasil- como estado Rio de janeiro, com seus municípios, por exemplo, que não reagiram ao fenômeno- não se tomou as ruas por um legislação que não beneficiava a prática e não se movimentaram rápido o suficiente para criar condições de regulamentação minimamente viáveis para a sustentação desse mercado, o movimento se equilibrou em eventos de gastronomia.
Cabendo como uma luva para solução de alimentação temporária em eventos e similares, os trucks começaram a ser explorados como motivos principal dos eventos. Então surgiram as feiras de food trucks, suportando o crescimento, especialmente em locais que não tinham a tal regulamentação.
Eventos como esse são muito caros, e a medida em que foram crescendo, sua demanda por eventos mais profissionais, foi se dilatando, aumentando os custos. Se manter as condições que um evento com 40 trucks é muito caro. E a gana por lucro dos maus produtores também.
Passou a ser quase inviável ter um truck num evento de gastronomia, por mais que fosse famoso e desse “garantia” de público. Esse custo repassado ao cliente final de forma galopante.
Entrementes aqueles novos entrantes do mercado, ainda pisando em terreno inóspito, começaram a ter de recorrer a práticas como compra de produtos mais baratos para viabilizar o custo, usar cada vez mais industrializados e portanto, depreciar muito o produto final para o consumidor.
Os que faziam a coisa de forma artesanal, autoral, e com qualidade, se seguravam e dependiam de secar muito gelo para manter suas estruturas, enquanto muita gente, trabalhava- acredito que até sem querer- para depreciar o mercado, prostituindo práticas e preços, confundindo o consumidor, que final das contas é o soberano, foi cansando.
A corda esticou. Soma-se a isso nossa característica mais brasileira, ou é tudo, ou é nada. Ou é o melhor, ou não serve pra nada. Ou ganho muito, ou não ganho.
A saída foi ainda mais rápida que a entrada de gente querendo fazer fortuna com food truck.
Mas, um alerta. O mercado NÃO morreu. Ele MUDOU.
Como na matéria, muita gente que tem marca forte, diversificou em loja física, mas não parou. Food truck, ainda é perfeito para eventos, para suportar alimentação temporária, e para ter o mínimo de higiene alimentar em vários casos. Además, os eventos mais profissionais, os mais fortes existem e ficaram mais sólidos.
Os trucks não se mostraram ser o “jovem jogador que um dia será melhor do mundo”, mas ainda são craques que fazem o jogo ser jogado do jeito bonito.
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